Filmando a odisseia de uma avó que procura o corpo do neto assassinado, as suas dificuldades para organizar o funeral, a sua incapacidade de fazer notar a sua existência pela Justiça, e o drama de uma outra avó cujo neto é o suspeito daquele assassínio, Mendoza juntou em "Lola" ("Avó") o que eram duas histórias verídicas separadas. É um atitude e um gesto de contornos algo "pulp fiction", porque podia ter resultados grosseiros, óbvios - reparo que alguns continuam a fazer ao cinema de Mendoza. Mas o que nos é devolvido é de uma subtileza imensa e intensa, tão frágil e tão lírico, mas tão destemido, como uma folha de papel ameaçada pelo vento. E que faz uma síntese e, simultaneamente, uma renovação dos procedimentos do filipino: mistura não profissionais com actores (para quem não duvida que as duas "avós" são mulheres que o realizador encontrou na chamada "vida real" para caucionar a "verdade" do seu filme, saiba que elas são Anita Lindo e Rustica Carpio, vedetas do "star system" filipino), continua a fazer-nos descobrir, através do périplo com as personagens pelas cidades, uma geografia física e humana implacáveis.